sábado, janeiro 30, 2010

No paraíso em que me recosto

(Giancarlo Zeni, 21/05/07)

N'um paraíso de matas claras recosto a cabeça e pouso a mente; no paraíso de pele macia e suave penugem. Ali, no pequeno monte em meio aos parcos e tênues pêlos, descanso e viajo. Desço pelos seus rios, que às carícias se tornam caudalosos, sentindo os perfumes se alterarem como da água para a melhor mirra; ainda melhor que mirra: sinto os perfumes do licor que derrama a minha amada.

Navego ao delta das águas que inundam minha boca e molham minhas mãos; navego, com a cabeça, as mãos, o nariz e os olhos, até a gruta rósea que faz-se o centro do meu universo. - Que tens aí? - O teu maior prazer. Com essas palavras, me chama a entrar. A misteriosa gruta clama, assim, por ser explorada.

As mãos, então, afagarão pequenos lábios e grandes satisfações; as mãos correrão o território não-demarcado da paixão que nutro pela mais bela orquídea. As mãos transponem os córregos de excitação, e levam umidade às encostas. As mãos acariciam as encostas e as nascentes, em movimentos longos e curtos, repentinos mas ritmados.

Derretidas as últimas pedras que pudessem restar nesta cachoeira, quero mais o olfato, quero mais o cheiro deste rastro que deixam os teus suspiros e as tuas exclamações. Quero o cheiro da potranca que solavanca-se no campo aos olhares do macho; quero o cheiro da fêmea selvagem no cio.

Inebriado, quero o gosto. E mando a língua ir buscá-lo, pelos divinamente tortuosos caminhos desenhados na meia-face do damasco partido que és. A língua resvala nas águas volumosas, e exulta! Exulta ao tocar o vinho aveludado das tuas entranhas, que escorre das melhores terras vulcânicas. A língua rejubila-se, e põe a sentinela, abaixo, em riste e vigia permanente. A língua toca e sorve, deliciada, o licor pluriaberto em rosa e pétalas e orquídeas e damasco.

És apenas gemidos e gozo. Céu e odores. Nada mais.